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Hepatites e Manicure: algo a se pensar

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A hepatite é uma doença na maioria das vezes silenciosa. No entanto quando o quadro evolui para uma hepatite crônica pode ter consequências no futuro como levar a cirrose e carcinoma hepatocelular. Há muitas formas de o ser humano adquirir hepatite entre os quais existem 2 vírus disseminados no mundo e no Brasil, vírus dos quais temos que nos prevenir: o vírus da hepatite B e C.

Segundo relatos da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o ano de 2015 foram infectadas no mundo 257 milhões de pessoas com o vírus da hepatite B (3,5% da população mundial) e 71 milhões de pessoas com o vírus da hepatite C (1% da população mundial). No Brasil até 2015 foram notificados 196.701 casos de hepatite B e 152.712 casos de hepatite C. A estimativa no Brasil é que 20% das infecções causadas pelos vírus das hepatites B e C, sejam por causas diferentes as tradicionais, o que nos faz pensar na possibilidade de centros de estética e beleza.1,2

Os vírus das hepatites são altamente resistentes ao meio ambiente, podendo permanecer em superfícies por mais de uma semana, sendo que uma única partícula viral pode ser suficiente para contaminar uma pessoa.3

O compartilhamento de matérias de manicure/pedicure, alicates de unhas e tesouras, tem sido apontados como uma das prováveis formas de transmissão desses vírus.4

Existem normas a serem seguidas para uma correta esterilização de matérias utilizados nos salões de beleza. Num primeiro momento o instrumento tem que ser lavado mecanicamente com água e detergente para remover as sujidades, dessa forma diminuindo a quantidade de microrganismos, a seguir o material tem que ser colocado em autoclave ou estufa, sempre respeitando as temperaturas e tempo de processamento. No caso de autoclave deve manter uma temperatura acima de 121°C por no mínimo 30 minutos, no caso de estufas deve manter temperatura acima de 170°C por no mínimo de 60 minutos. Vale lembrar que se o processo é interrompido com a abertura da porta do aparelho, todo o processo deve ser reiniciado desde o início.5 Após os instrumentos usados para manicure terem sido embalados, terão uma validade de 7 dias. Numa pesquisa realizada em São Paulo mostrou que mesmo em lugares onde se utilizava autoclave ou estufa, 93% não eram higienizados antes de colocar material dentro deles. A respeito da temperatura ideal e tempo de permanência do material dentro do aparelho, só 7 % das entrevistadas sabiam usar corretamente a estufa e 0% a autoclave.6 Em Salvador Bahia, pesquisa similar mostrou que dos salões de beleza entrevistados só 29,2% possuíam autoclave, no entanto a maioria de profissionais desconheciam o correto uso do aparelho7. Isso nos mostra que mesmo nos locais onde se tem o aparelho correto, ele não é utilizado de forma adequada para uma correta esterilização de materiais que vão ser utilizados na próxima cliente. O uso de material incorretamente esterilizado pode levar a infecção cruzada de vírus. Numa pesquisa realizada em São Paulo mostrou que entre as manicuristas entrevistadas, 8% eram portadoras de hepatite B e 2% de hepatite C, levantamento similar em Belo Horizonte mostrou prevalência de 4% para vírus B e 1,3% para vírus C, o que torna uma prevalência viral elevada em relação a população geral isto sugere que a profissão é um grupo de risco para tais vírus.6,8

A ANVISA recomenda a que tem que existir uma rotina de esterilização dos materiais reutilizáveis; os mesmos têm que ser embalados com data de validade visível, armazenados em local próprio e exclusivo. As manicures têm que utilizar equipamento de proteção individual (EPI) como luvas e capa, higienizar as mãos antes e após cada procedimento e desinfecção da superfície com álcool 70% após finalizado o procedimento.

As hepatites são uma realidade brasileira e mundial, o melhor remédio é prevenir, para isso temos que seguir e fazer respeitar as normas de segurança preconizadas para evitar infecções por esses vírus. É recomendado9:

  1. Levar seus próprios matérias (alicates de unhas, tesouras, etc) para realizar a manicure/pedicure;
  2. Caso não leve seus materiais próprios, exija que ele seja aberto na sua presença e verifique a data de validade;
  3. Verifique se o salão tem licença sanitária para funcionamento;
  4. Exige que a profissional higienize as mãos antes do atendimento, use luvas descartáveis, lixa de unhas descartável.
  5. Uso de toalhas individuais e embaladas em saco plástico, assim terá certeza que só foi utilizada em você.
  6. Verifique se a profissional, ao finalizar o procedimento, higienizou com álcool 70% a superfície onde o mesmo foi realizado.

Todo cuidado é pouco no controle das infecções pelos vírus das hepatites. Vamos fazer a nossa parte!

 

 

 

 

Bibliografia

  1. World Health Organization. Global Hepatitis Report, 2017. Geneva.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, prevenção e Controle das DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim epidemiológico – hepatites virais. Brasília (DF); 2016.
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de aconselhamento em hepatites virais. Brasília (DF); 2005.
  4. Mariano A, Mele A, Tosti ME et al. Role of beauty treatment in the spread of parenterally transmitted hepatitis viruses in Italy. J Med Virol 2004; 74:216-20.
  5. SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO. RESOLUÇÃO SS nº 374, DO ESTADO DE SÃO PAULO, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1995 (Institui norma técnica sobre a organização do Centro de Material e Noções de Esterilização), São Paulo, 1995.
  6. Oliveira AC, Focaccia R. Survey of hepatitis B and C infection control: procedures at manicure and pedicure facilities in São Paulo, Brazil. Braz J Infect Dis. 2010;14(5):502-7.
  7. Moreira ACA, Silva FL. Métodos de esterilização utilizados em salões de beleza de Salvador, BA. Rev. Cienc. Med. Biol., Salvador, v. 16, n.1, p. 73-78, jan./abr. 2017.
  8. Garbaccio, Juliana Ladeira. Conhecimento e adesão às medidas de biossegurança entre manicures e pedicures [Manuscrito]. Belo Horizonte, 2013.
  9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, prevenção e Controle das DST, Aids e Hepatites Virais. Meu salão livre das hepatites: manual de prevenção para manicures e pedicures. Brasilia.

Autor

Dr Fernando Javier Hernandez Romero

Dr Fernando Javier Hernandez Romero

Infectologista

Especialização em Infectologia Hospitalar no(a) Inesp.